sexta-feira, 19 de outubro de 2007

MODERNISMO: UM NOVO OLHAR PARA A CULTURA DO BRASIL

O Modernismo provocou um corte providencial na cultura brasileira da época, e ainda possui grande influência na arte contemporânea brasileira


O Abaporu, Tarsila do Amaral
Modernismo, como todos sabem teve seu ápice cultural na famosíssima semana de arte Moderna de 1922, ocorrida entre 13 e 17 de fevereiro daquele ano, com grande repercussão entre os intelectuais e jornalistas da época, mas sem o objetivo plenamente alcançado, que era o contato das obras modernistas com o povo brasileiro.

Mas o que poucos sabem é que esse movimento cultural teve um panorama mais amplo do que o apresentado naquela semana. O Modernismo como conceito teve início no meio da década de 1910, depois de Oswald de Andrade ter conhecido o Professor Mário de Andrade, e mais tarde com o retorno da Europa por Anita Malfatti e suas exposições de pintura em 1917, bem como o surgimento do escultor Victor Brecheret, que seriam futuramente as bases das artes plásticas da Semana de 1922. O fim do movimento se deu por volta da década de 40, principalmente com o falecimento de Mário de Andrade, em 1945.

E como todo movimento de longa duração, também foi de grande complexidade e ousadia. Esses intelectuais romperam com toda uma forma de fazer arte, totalmente voltada à Europa, seu povo e seu modo de vida. O Modernismo procurou substituir o conceito de raça pelo de cultura, partindo de novos paradigmas, analisando a arte brasileira como algo efetivamente nacional. Isso se deu com um modo de pensar totalmente novo, incorporando o passado e as tradições brasileiras, mas não como formas inertes e sim utilizando esses elementos como novas ferramentas para criação. Essa perspectiva foi uma afronta para os intelectuais mais ortodoxos, pois ia contra a toda uma forma única de pensar e produzir arte. Os modernistas traziam algo impensado até aquele momento: a busca pela valorização do povo brasileiro. Esta seria baseada no aproveitamento também da cultura popular e não apenas utilizar elementos da cultura erudita, centrando no país e suas necessidades, com anseios e projetos próprios e com apelo ao povo, desvinculando-se das outras nações. Esse desejo se manifestou nas obras feitas naquele período, como retratos do mestiço, da favela, do progresso, colocando pela primeira vez a arte com uma função pública e política perante a sociedade.


Antropofagia, Tarsila do Amaral
Outro conceito muito abordado dentro do Modernismo foi a Antropofagia, criado por Oswald de Andrade, através de seu Manifesto Antropófago (1928). Esse conceito colocado por Madeira e Veloso (1999) seria o passado, a tradição, o primitivo como fontes de um lirismo original, matéria-prima para a paródia e para a crítica, incorporando as contradições entre a natureza e a cidade, a realidade urbana com seus elementos mais radicalmente modernos. E tudo isso se constituiria na “devoração antropofágica” de todos esses elementos para se criar uma nova perspectiva para a nossa cultura, deglutindo tudo a seu redor e trazendo algo mais reflexivo e próximo ao Brasil.

Ao analisar a cultura brasileira por este novo parâmetro, valorizando o nosso povo, bem como tudo produzido aqui, os modernistas causaram um impacto muito grande nas pessoas. O objetivo foi aproximar a grande massa representada naquele movimento artístico. Só que isso acabou não ocorrendo, justamente pela população não ter identificado aquilo que diziam representar a eles mesmos, até por não possuir conhecimento daquilo, por ser uma classe iletrada, portanto, sem maior informação sobre o que seria aquele movimento único na arte brasileira. Outro fator foi o alto custo para se ter acesso a essas obras. Exemplo disso foi o alto preço das noites na Semana de Arte Moderna. Ainda que o Teatro Municipal ficasse aberto durante o dia na semana de fevereiro de 1922, os operários estavam trabalhando, portanto, não tinham condições de acompanhar as exposições, palestras, etc.


A boba, Anita Malfatti
Isso, portanto, coloca em questão a real objetividade que o Modernismo propôs na sociedade da época. Era uma busca de ruptura, com vistas ao povo brasileiro, seu passado e tradições, mas sem uma empatia efetiva com os cidadãos pobres da época, apesar de ser um algo revolucionário, com outro olhar a mostrar. Porém, se com o povo o movimento não obteve êxito, não se pode dizer o mesmo em relação ao acervo cultural e a sua importância no desenvolvimento artístico brasileiro, tendo como enorme influência o Modernismo Antropofágico de Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Raul Bopp, entre outros já citados. Podemos exemplificar esta influência para a nossa cultura com a Bossa Nova, a Tropicália de Caetano, Gil e a arte daquele período por Oiticica Filho. Lembremos também o modernista Gláuber Rocha com seu Cinema Novo, e posteriormente o movimento musical pernambucano denominado Manguebit. Todos esses períodos representaram plenamente o movimento cultural mais importante de toda a história artística brasileira, afinal o Modernismo nos trouxe uma forma nossa de criarmos a arte brasileira.


bibliografia:
http://www.rabisco.com.br/07/modernismo.htm

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